terça-feira, 17 de junho de 2014

Crianças estrangeiras enfrentam dificuldades com o ensino no Japão



Por Uehara Yuu
Fonte:NHK World Press All Rights Reserved

O número de estrangeiros vivendo no Japão chegou a cerca de 2 milhões e 60 mil no final do ano passado, e o governo planeja aumentar este número. Apesar disso, crianças estrangeiras vivendo no país não estão sujeitas à educação compulsória e não tem garantido o acesso à educação básica. No comentário de hoje, vamos ouvir Yoshimi Kojima, professora adjunta da Universidade Aichi Shukutoku, que nos fala sobre questões educacionais enfrentadas pelas crianças estrangeiras no Japão.

A professora cita um levantamento realizado por ela durante dois anos com ajuda de governos locais e organizações sem fins lucrativos na cidade de Kani, província de Gifu, iniciado em abril de 2003. Muitos estrangeiros residem na cidade. Ela diz que, após analisar a situação escolar de crianças estrangeiras em idade para frequentar os nove anos do ensino primário japonês, aprendeu duas coisas.

Primeiro, realmente existem crianças que não vão à escola. Apesar de serem de várias nacionalidades, como sul-coreanos, brasileiros e filipinos, elas são nascidas no Japão e dominam o idioma. A professora afirma ter descoberto que elas estão nesta situação por não terem a nacionalidade japonesa. O segundo ponto é que muitas crianças abandonaram o ensino público. Algumas estão trabalhando. A lei japonesa define que crianças menores de 15 anos de idade não podem trabalhar. Mas em 2006, quando funcionários do governo de Gifu inspecionaram fábricas da província, 12 crianças brasileiras desta faixa etária foram encontradas trabalhando em duas empresas japonesas. Estes casos mostram que a evasão escolar pode levar ao trabalho infantil.

Em sua pesquisa, a professora Yoshimi Kojima diz ter encontrado crianças que não estudavam e faziam trabalhos domésticos, tal como cuidar de irmãos mais novos que não conseguiam entrar em creches. Há ainda crianças que não podem estudar por razões financeiras, tal como a incapacidade para pagar os uniformes do ensino ginasial. Algumas crianças tinham engravidado, e outras nem mesmo chegaram a frequentar a escola e não sabiam ler ou escrever.

Através deste estudo, a professora descobriu que as escolas estrangeiras também estão tendo dificuldades. Existem mais de 100 escolas para estrangeiros no Japão. Algumas escolas chinesas foram fundadas há 100 anos, e há ainda muitas escolas internacionais, assim como brasileiras e indianas. Suas trajetórias, dimensões e idiomas são variados. Muitas destas instituições não estão asseguradas pelo sistema japonês, o que coloca seus alunos em uma situação complicada. Vejamos o caso de crianças em escolas brasileiras.

Atualmente, existem 56 instituições brasileiras de ensino no Japão. Escolas estrangeiras não recebem auxílio público de governos locais ou nacional, como as escolas reconhecidas. Elas dependem somente das mensalidades pagas pelos pais das crianças. Após a crise financeira de 2008, muitos pais perderam seus empregos e ficaram incapacitados de pagar as mensalidades, colocando estas instituições em uma situação financeira difícil. O número de alunos em escolas brasileiras que se viram impossibilitados de estudar por motivos financeiros cresceu muito.

Crianças que estudam em escolas estrangeiras enfrentam ainda problemas após a graduação. Há dois anos, a professora Yoshimi Kojima fez um levantamento junto a governos de 60 províncias e grandes cidades. Das 50 autoridades que responderam o inquérito, apenas 14 afirmaram considerar estudantes formados em escolas estrangeiras aptos para se candidatar a vagas em escolas públicas de ensino médio. No entanto, todos os governos afirmaram que reconheceriam uma criança que tivesse estudado os nove anos da educação formal no exterior como qualificada para estudar em escolas públicas de ensino médio. Isto significa que escolas estrangeiras de ensino ginasial não são vistas nem como escolas japonesas, nem como escolas do exterior.

No caso de inscrições para o ensino superior, o governo japonês considera que um estudante graduado em uma escola de ensino médio no Brasil está qualificado para entrar em universidades nacionais ou públicas no Japão desde que a escola seja reconhecida pelo governo brasileiro. Vimos até aqui o caso das escolas brasileiras. Algumas escolas estrangeiras não recebem reconhecimento para enviar seus alunos às universidades e estão excluídas do sistema japonês que torna gratuita a mensalidade do ensino médio público. A falta de sistemas legais no Japão que garantam a educação de estrangeiros vem causando muitas dificuldades.

Nas escolas do Japão, diretrizes educacionais do governo são regidas pelo ideal da "capacidade de viver", e este ideal é ensinado às crianças nas escolas. Para a professora Yoshimi Kojima, é dever do governo japonês agir para que crianças estrangeiras possam aprender esta "capacidade de viver". Este é também um dever de um país desenvolvido.

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